sábado, setembro 19, 2009

Outono

Não me apetece agora ir assim para fora de mim, ocupar o centro e as luzes, mesmo que me digas que posso sentar-me na coxia, assim sem quase ninguém dar por mim. Eles podem não dar por mim, mas eu darei por mim própria. Eu darei pela minha crónica falta de jeito para certos lugares da academia, pelo enrolar da minha língua ao falar qualquer outra que não seja a minha, pela minha inabilidade total para o fingimento, eu não poderei afirmar com certeza o lugar da ciência em mim, nem dar importância ao que faço. O que me sobrou foi apenas o gosto pelo observar do mundo, pela escuta das palavras, pelo que transparece nos olhares. O gosto por construir as narrativas cruzadas em que o saber mora apenas nas esquinas das palavras. É impossível a escrita fria, é impossível ser o que me pedem. Vou esquivando-me, morando num corredor, andando de cá para lá. E só quando sou puxada para um dos lados, é que percebo o quanto me custa.


E além do mais o Verão está a acabar e bem sabes que no Outono ainda menos me apetece sair de mim. E nesta altura, voltam inteiros os sonhos com as estações de comboio abandonadas transformadas em estações de prova de chás e estufas inglesas. Volta um eu metido em si como um búzio.
~CC~

3 comentários:

Cristina Gomes da Silva disse...

Vá lá, é só um ligeiro frisson, isso passa.:)

Mar Arável disse...

Consigo

em si

em todas as estações

via disse...

o outono é mesmo assim, apetece hibernar, enrolar-se sobre si e deixar ao tempo o resto.