Foi no Domingo que passei por ela, pela escola pequenina, duas salas onde o som do mar talvez se pudesse ouvir ainda.
Olhei-a e olhei-me vinte anos atrás, no espelho do carro bailaram os sonhos que tinha nessa altura. Imaginava-me professora primária numa escola de duas ou três salas, com um grande pátio e árvores a trazerem a sombra que precisaríamos para as conversas sentados em roda. Imaginava-me a envelhecer a educar os filhos dos pais que também tinham sido meus alunos. E nos meus tempos livres imaginava-me a fazer um trabalho comunitário em prol das artes, quaisquer que elas fossem. Não queria nada mais do que o que imaginava ser um mundo de paz, longe da ribalta, do tumulto, da erosão das pessoas e das coisas. Tinha, sempre tive afinal, essa ideia de proteger-me de alguma ameaça a que nunca soube dar nome, mas que habitará talvez um tempo que de tão primordial me está oculto.
E não foi nada disso que tive, não consegui nunca essa paz, esse adormecimento feliz entre jardins de cheiros e meninos de bibe, nunca cheguei sequer a ser propriamente uma professora primária, nos poucos anos em que o fui, era sempre isso e uma outra coisa.
Nem sei se há ainda essas escolas, essas vilas, essas aldeias. No outro dia contaram-me histórias de violência em terra de cavalos e touradas, monstros que habitavam as searas de milho e de melão onde eu imaginava histórias de encantar. O lugar que habito parece ser na sua aparência branca e soalheira também um lugar de paz e, no entanto, é um espaço habitado por tantas e tantas sombras.
Nada do meu percurso foi desenhado, planeado, sequer antevisto. É talvez por isso que espero ainda uma surpresa qualquer, um vento maior e doce.
~CC~
3 comentários:
Gostava de fazer um desenho com uma escola dessas, uma grande acácia moringa e uma velha estação.
No meio cresciam girassóis.
O google maps assinalaria esse lugar com o nome Primavera.
Onde estão os lápis-de-cor?
Beijo
*jj*
Claro que existem professora!:) Estou feliz porque com o avançar do tempo, nós, a quem um dia confiaram minúsculas sementes, havemos de dar muito fruto. Aqui, bem perto de si. E depois, visitar-nos-á, com o seu sorriso e a sua curiosidade. E nós sentir-nos-emos queridos e valorizados no nosso trabalho.
Um grande beijinho,
Madalena.
Obrigado queridos amigos, comentários luminosos, que me deixam feliz.
~CC~
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