A minha mãe tinha-me vestido com o vestido branco, as meias de renda e os sapatos de verniz preto, percebi que era uma ocasião importante. Ele levou-me pela mão e disse que me queria apresentar uma senhora. A senhora muito grande e muito forte colocou-me no seu colo e sorriu muito. Ele olhava para ela derretido. Fez-se em mim um silêncio fundo, e nada nem ninguém foi capaz de o quebrar. Em casa a mãe perguntou: onde foste? E só respondi com o silêncio, o silêncio fundo e triste. Acho que foi o primeiro contacto que tive com a mentira.
~CC~
5 comentários:
O silêncio não é mentira :)
O silêncio, como escreveu a Cristina, não é mentira. Pode ser omissão, mas justificada com certeza.
Não me lembro da minha primeira mentira, porém lembro-me das meias de renda, dos sapatos de verniz, do vestido branco... também não lhes escapei! :)
Meninas, viram "a mentira" numa perspectiva diferente da minha...eu falava na mentira do homem(pai) à mulher(mãe) e na consciência que a criança(filha) adquire dela. Quanto ao silêncio, concordo que em muitas ocasiões da vida ele pode ser "protector" mas ainda assim é sempre complexo, difícil de classificar(verdade/mentira) e viver com ele pode trazer muita culpa.
Beijinhos às duas
~CC~
Na verdade
tudo é relativo
A omissão tornou-se, pela conivência e pelo sentimento de culpa, mentira, sobretudo no coração de quem viveu o dilema. Considerando, entre outros factores, a idade da protagonista, a mentira (ou omissão) é perfeitamente compreensível. Não seria fácil agir de outro modo.
Bom fim-de-semana. :)
Beijinhos
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