sexta-feira, março 13, 2009

O meu nome é Vanessa (XV)

Três anos, foram três anos apenas que vivi com aquele estranho. Entre ele e mim a necessidade de fazer o jantar, lavar e passar a roupa, ir ao supermercado comprar a comida, ligar a televisão de vez em quando. Entre ele e eu um acordo de sombras chamado casamento. A minha saída autorizada do inferno que era a minha família, ele foi pelo menos um passo em direcção ao nada. E deserto é melhor que inferno, é um lugar onde o fogo não nos devora.

Oiço esta mulher falar com a frontalidade que nunca tive. Ela fala do amor como um lugar que nunca existiu, eu, pelo contrário, fui rodeado de um afecto que nunca soube corresponder. Lembro a minha mãe a entrar no quarto todas as noites para dizer: boa noite filho. E eu, por último já nem conseguia responder, fingia que estava a dormir. Gostava de saber porque é que me tornei assim, que medo é este que aprisiona a minha fala e que sempre me impediu de dizer amo-te, mesmo quando a miúda mais morena e mais bonita da minha rua passou a ocupar parte dos meus dias e das minhas noites. No dia em que ela olhou para mim no café fiquei aterrado e naquele em que se sentou à minha mesa, pensei mudar de morada. Timidez, poderiam pensar. E no entanto, escolhi esta profissão onde estou sempre a contactar pessoas. A minha solidão não se percebe, eu próprio não a percebo. A minha vida amorosa é o oposto da vida da Vanessa. E respondi-lhe sem pensar.

- Deserto, Vanessa, não uses essa palavra, essa palavra é minha, é a melhor que encontro para definir a minha vida.

E foi nesse dia, o da 9º entrevista, que deixei totalmente de a entrevistar, os nossos encontros passaram a ser um diálogo. À mesa do café, um homem chamado deserto e uma mulher chamada desespero.
~CC~

2 comentários:

Gregório Salvaterra disse...

Isto está mesmo um caso sério. De escrita.
Beijo
*jj*

Anónimo disse...

Lindo, como sempre...