quarta-feira, fevereiro 11, 2009

Os bons e os maus

Por estes dias não sei te tenha mais medo dos corruptos ou dos incorruptíveis. Os primeiros não se parecem nada com ladrões, de tal modo andam bem vestidos e bem cheirosos e, apesar de sabermos que o mundo anda desgovernado, é ainda assim estranho chamar-lhes banqueiros, membros do Conselho de Estado ou do Governo.

Os segundos não se parecem nada com inquisidores, bramindo os seus chicotes feitos de palavras parecem missionários de esquerda e de direita milagrosamente juntos numa frente comum, usando panfletos digitais ou o velho papel, tudo parecem saber sobre esse males que são os jogos de influência, o compadrio, a corrupção; nada disso jamais os afectará.

Olho para uns e para outros e tenho medo. Medo da corrupção que em vez de se chamar gasosa como em Angola e ser descaramente praticada, é subtilmente infiltrada e embrulhada em alta costura. Medo dos anti-corrupção porque parecem nunca ter roubado um chocolate num supermercado, nunca ter pensado primeiro em si do que no outro, parecem ter sido depurados por alguma técnica inovadora de cirugia estética que os tornou sombras. E os seus gritos por verdade, verdade e justiça, justiça, parecem-me tão perigosos como o seu contrário.

Mas isto sou só eu a desculpar-me por já ter roubado um chocolate num supermercado. E a justificar não ter brincado aos polícias e ladrões por não gostar nem de uns nem de outros.
~CC~

2 comentários:

Gregório Salvaterra disse...

A corrupção embrulhada em alta costura é uma brilhante forma de descrever este fenómeno em contraste com os 30% e a popular "gasosa" de pé descalço.
Confesso que tentei roubar um chocolate, mas senti-me tão mal e cheio de suores que parecia que toda a gente estava a ver, desisti. Claro que fui gozado por isso, mas sobrevivi.
Beijo
*jj*

JOSÉ RIBEIRO MARTO disse...

Excelente apontamento, também eu vivo muito apreensivo, mas mais com uns do que com os que tem ar de quem nunca roubou um chocolate...
Poderemos acreditar!

____________ JRMARTO