terça-feira, fevereiro 10, 2009

O casulo


Todos os dias que não quiseste vir viver para Paris comigo. Todos os dias em que te afogaste entre o prato da sopa e o telejornal das oito. Todos os dias que acordaste com as asas cortadas, morto pelo Inverno a crescer dentro de ti, esmagado pelo peso das responsabilidades. E as responsabilidades espremidas são apenas e só meia dúzia de condições de sobrevivência. O que há em Paris que não há aqui? Porque queres ir? Para nos vermos, para nos encontrarmos, para nos beijarmos hoje com mais vontade que ontem. Vem para Paris comigo já hoje.


São tantas as mulheres que são como a Kate, tantas as mulheres que lutam como a Kate (não me lembro que nome tinha ela no filme). Os fios que a atavam nos anos cinquenta eram mais fortes, mas agora ainda estão lá, talvez mais invisíveis. Há na tragédia dela uma loucura que reside na persistência do seu desejo e o desejo habita no seu corpo com uma intensidade brutal. É uma mulher que quer sair do casulo, romper com os fios da mentira de uma vida pautada quase exclusivamente pelas aparências, pelo simulacro da normalidade.


Há em muitas mulheres uma Kate, uma Kate que sem ninguém ver já começou a sua viagem para Paris. Os homens devem ver este filme. As mulheres que não querem ir para Paris também. E as que querem ir, sairão com lágrimas interiores.

~CC~

6 comentários:

Anónimo disse...

Ao ler-te (ainda não vi o filme, mas fiquei com vontade), lembrei-me de As Horas (filme e livro). São três os tempos, três as mulheres, três as vontades de liberdade, de "partir para Paris" e cada uma acaba por partir de alguma forma...

Tenho seguido a história da Vanessa. Para lá da tragédia, do irremediável, da dor, a beleza das palavras.

Um abraço do Norte. :)

Anónimo disse...

Não fosses tu minha amiga e decretava já que devias ser proibida de escrever!

Escreves duas frases e contas um filme! E eu, que fico sem saber se o deva ver ou não... Afinal já sei a história e, acima de tudo, Paris é uma cidade que me fascina!

Devia ser proibido escrever assim.... Pelo menos cá na terra... entre os comuns mortais!

Um beijo
JvT

Gregório Salvaterra disse...

Paris, allons-y!
Beijo
*jj*

CCF disse...

Vai ver Deep, acho que vais gostar, apesar de ser tão triste. Abraço do Sul

JVT, ainda bem que sou tua amiga :)))! Beijo

JJS, há vinte anos que não vou lá.
Beijo

~CC~

Cristina Gomes da Silva disse...

Parece que o filme não é grande coisa. Valham-nos os olhares complacentes que sonham com Paris. :)

CCF disse...

Cristina, o filme é na minha perspectiva muito bom. Os críticos têm quanto a ele, opiniões divergentes e uns classificam-no muito bem e outros menos. Paris não é a cidade, é apenas uma metáfora (a liberdade, acho).
~CC~