sexta-feira, janeiro 23, 2009

O meu nome é Vanessa (VIII)

Chegou, chegou mais um envelope para si! Mas quem lhe escreve assim com selo de correio e tudo? Isto já não se usa.

Era verdade, tinha chegado mais um envelope da Vanessa. O segundo me chegou...só me lembrava da música do Chico Buarque. Abri sem conseguir designar os meus sentimentos pelo que estava a acontecer. E em perfeita indecisão sobre o rumo a tomar. Continuar a ouvi-la? Dar por encerrado o caso, retirando-a da reportagem? Na verdade tinha de a terminar daí a dois dias, não chegaria para que ela me contasse sobre os oito homens que faltavam para chegar a este último. E deste eu só sabia que tinha 60 anos e a Vanessa 30, era manifestamente insuficiente para traçar o perfil de uma relação afectiva baseada na diferença de idades e era isso que era suposto fazer na reportagem.

Você sabe que eu era uma miúda da periferia, de bairro social. Aos 18 já trabalhava como empregada na fábrica dos sumos, sem nenhum horizonte que não fosse gastar ali o meu futuro. O rapaz com quem eu comecei a andar, apenas 3 anos mais velho, já era chefe da secção. Tinha tirado um curso qualquer da escola profissional. Não me apaixonei propriamente, deixei-me ir. Ele ficava para vigiar o turno da noite e depois dizia que me levava a casa, embora eu não tivesse medo nenhum. Começou a apalpar-me no carro logo da primeira vez que me levou e nunca mais parou de o fazer, sempre cada vez mais. O nosso namoro era isto, nunca me fez um convite para sair ao fim de semana ou me convidou para ir a lado algum. Um dia disse-lhe que devia vir a minha casa, que o queria apresentar à minha irmã. Perguntou se ela era gira e se tinha namorado. Não veio e não explicou porquê. Um dia vio-o num centro comercial em Lisboa, de mão dada com uma rapariga. Confrontei-o na Segunda Feira com aquela mão na mão de uma miúda que não era eu. Respondeu com tranquildade que era a namorada dele e acrescentou ainda: Ou julgaste que ia casar contigo?

Quando acabei de ler o que a Vanessa tinha escrito soube duas coisas: que não a podia incluir na minha reportagem; que não queria parar de a ouvir. Falta acrescentar que senti falta de ar e tive de me sentar durante um bocado.
~CC~

4 comentários:

Nenúfar Cor-de-Rosa disse...

Olá CC! Tens um prémio lá no meu cantinho, se quiseres podes ir lá buscá-lo! Bom fim de semana!!

Mar Arável disse...

Encontros desencontros

o mar contra as falésias

sem-se-ver disse...

passei-lhe um prémio (desculpe o mau jeito, foi com boa intenção e sincero :-)

bjinhos, boa semana

CCF disse...

Girafa e Sem se ver, muito obrigado pelos prémios. Irei mencioná-los em breve.
Um abraço

Mar Arável, iremos saber o que pensa a Vanessa do mar contra as falésias.

~CC~