sábado, janeiro 03, 2009

Gaza: a dúvida sistemática



Aos catorze li o Exodus em extase. Para mim o sonho de uma pátria chamada Israel era o mínimo que o mundo poderia dar aos judeus depois do holocausto. O seu sofrimento, o seu desejo, a sua coragem, eram motivos para uma admiração que não tinha limites. Do Exodus segui para a literatura seguinte e aos dezasseis imaginava construir em Portugal um kibutz semelhante aos que existiam em Israel. O sonho comunitário impregnava a minha alma adolescente em confusa comunhão com os ideais ecológicos que ganharam força nos anos oitenta. Não via, na altura, nenhum conflito em pertencer a um movimento ecológico e ser pró-Israel.

Justamente aos dezasseis conheci uma tribo que usava lenços palestinianos quase todos os dias e que denominava os Israelitas como usurpadores de terra alheia, inimigos da esquerda, em tudo apoiados pelo aliado americano. Explicaram-me passo por passo que a Palestina não era um deserto de pedras que os Israelitas tinham transformado em terra de leite e de mel. Fiquei a saber que a Palestina já tinha gente que chamava aquela terra como sua. Mudei de lado com a mesma convicção com que antes tinha pertencido ao outro, coisa que só na juventude podemos fazer com absoluta sinceridade porque o mundo é ainda um lugar inexplorado que estamos a conhecer.

Hoje sou adulta, habita-me uma dúvida sistemática quanto à razão que mora em cada lado do conflito. Só a certeza de que a guerra é uma coisa estúpida e que nada resolve, me anima a estar contra o que está a acontecer em Gaza.
~CC~

5 comentários:

Nenúfar Cor-de-Rosa disse...

Acreditas que quando vi as notícias sobre Gaza e os seus conflitos pensei...a CC vai escrever algo sobre isto, e não é que escreveste? Já são alguns os textos que leio, feitos por ti, sobre o que se passa no mundo à nossa volta e vejo que sofres com o sofrimento dos outros, mesmo que este seja distante de nós...isso é raro e nobre no ser humano, é a compaixão. Elevada alma a tua...gostei de te ler...como sempre!!:-)) UM BOM ANO, cheio de alegria e coração pleno de coisas boas!! Beijinho.

Gregório Salvaterra disse...

A guerra é mesmo a coisa mais estúpida que a (des)humanidade inventou. Já não consigo também saber de que lado estou. Estou contra a guerra. Do teu lado.
Beijo
*jj*

Anónimo disse...

Acabo de ouvir as últimas notícias.... nada animadoras.

JPN disse...

eu estou do lado daqueles que vivem em paz e se apercebem que a sua paz é feita de muito sangue alheio longínquo. e que já não conseguem estar em paz depois disso.

bom ano, Carla!

Anónimo disse...

Uma terra santa, ou melhor uma terra que deveria ser santa e que é há tanto tempo castigada. Apenas porque, pertencendo a dois povos, uns (os Israelitas-Judeus) que a herdaram dos seus antepassados, outros (palestinianos-árabes [muçulmanos]), que a herdaram por lá terem permanecido aquando do êxodo judaico, não se conseguem entender.
Porque não conseguem partilhar.

Não entendo isto... a sério que não!

Ao regressar hoje à escola, perguntei aos alunos (2º ano) se tinham ouvido algo sobre uma guerra que está a acontecer e apenas um disse ter ouvido algo que não conseguia explicar!

Com amizade,
Madalena.