segunda-feira, outubro 27, 2008

Ausências e errâncias (VI)

Beira interior, 2007


-Diz-me, alguma vez desejaste uma mulher?
- Talvez sim, mas já não me lembro.
- Como pudeste esquecer? Como se anula essa parte do nosso ser?
- Não anulas, simplesmente não lhe dás espaço. Repara, é um prazer que não conheço, por isso não posso sentir saudade, só há saudade do que conhecemos e amamos.
-Não desconheces que o celibato não é uma regra de todas as religiões, mesmo das monoteístas.
- Claro que sei isso.
- Então porque aceitas? Porque não te mexes para acabar com isso.
- Porque não acho uma coisa errada, não acho que seja o nosso maior problema.
- Qual é o sentido disso, não consigo encontrar.
- O sentido de uma missão que ocupa muito espaço, toda a nossa disponibilidade. Quantos cientistas não fizeram o mesmo com a sua vida? E muitos que não o fizeram, se calhar deviam.
- Como?! Nós conseguimos equilibrar as coisas, os cientistas já não são ratos de laboratório.
- Alguns são, e outros tentam ter família mas não lhe dão atenção, acho pior esse engano.
- Não é saudável, todas as partes no nosso ser são importantes, devem estar em equilíbrio.
- Pois eu acho essa tua visão muito higiénica e normativa, o equilíbrio é uma coisa muito pessoal.
- Rejeito a tua renúncia.
- Porque não percebes que é uma escolha, não uma renúncia.
- Não é uma escolha tua, é a escolha que a tua religião fez por ti.
- Mas se eu escolhi essa religião, tornou-se uma escolha minha.
- E os casos, todos os casos de padres que não cumprem essa regra? Que o fazem às escondidas?
O que dizes a isso?


~CC~

3 comentários:

clorinda disse...

Só de viver num sítio lindo como esse já vale a pena o sacrifício! Não??? (risos)...
Claro que sou contra o celibato imposto aos sacerdotes. Sou sim a favor de uma opção pessoal feita de plena consciência de acordo com os valores de cada um, ditados por princípios pessoais,já, intransmissíveis (como a nossa impressão digital) e não por qualquer dogma (des)regulador, que tanto estrago tem causado no seio da própria igreja católica.
Carpe Diem
bjs

Anónimo disse...

Não sei se serão assim tantos os padres que o fazem. Cada vez há menos rapazes a quererem ser padres, a sentirem essa vocação.

Mesmo assim, conheci vários, há uns anos, que queriam e hoje são-no... não creio que eles às escondidas estejam com mulheres... pelo menos, não, por aquilo que conheci deles. Acho que então teriam escolhido não ser padres. Afinal é uma questão de escolha.

:) Beijinhos,
Madalena.

CCF disse...

Gostei de saber as vossas opiniões :)
MAdalena, enviei mail para si mas não tive resposta...recebeu?
Beijinhos dois
~CC~