Nunca poderei esquecer que o meu pai me dava a mão quando saíamos à rua, mesmo quando eu já não tinha idade para isso e não me ia perder dele, outras vezes passava-me um braço pelo ombro e trazia-me assim, como num ninho.
Nunca poderei esquecer como tu, ao contrário de tantas outras crianças, tinhas a iniciativa mal deixavámos a porta de casa, de nos dar a mão, de nos segurar com força, quase com medo de que te esquecessemos num lugar qualquer. Era a mão mais doce que já segurei, tão pequenina, tão minha.
Nunca poderei esquecer a mão permanentemente húmida de um rapaz que me fazia poemas e que queria ser meu namorado embora soubesse que eu já tinha um namorado, tinha uma doença que o fazia pingar das mãos e por isso usava sempre um lenço. Um dia, num passeio colectivo a Sintra, deu-me a mão e eu fiquei a pingar tanto como ele, mas não tive coragem de a tirar.
Nunca poderei esquecer aquele homem mais velho que há muito não dava a mão a ninguém na rua e que segurando a minha me disse: fico um pouco envergonhado.
Nunca poderei esquecer o modo como uma mão de uma colega que à minha se agarrou quando me sentia a desfalecer num lugar em que não tinha ninguém, me fez ter esperança.E nunca quererei esquecer as noites em que adormecemos de mãos dadas e assim permancemos longo tempo até que o sono as desfaz. Talvez seja por causa delas que acordas para me salvar dos pesadelos.
São as mãos nas mãos que nos aquecem o sangue.
~CC~
7 comentários:
Pois!
Mãos de fazer a paz e o amor e de esculpir a esperança.
Bj
*jj*
Muito bonito. Uma mão cheia de beijos.
Lindo! Nem consigo acrescentar nada.
Quando era pequena, tinha medo. Medo de me perder na imensidão desse mundo...
Onde havia tantas pessoas grandes e era só eu a pequenina.
....eu sou da mesma opinião do josé, mas com alguns dias de atraso ...
um prazer de ler , como sói dizer-se!
José Ribeiro Marto ( JRM )
Belas mãos estas que me dão. Obrigado seis vezes.
~CC~
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