quinta-feira, abril 24, 2008

Abril em Luanda

Luanda, 2007. Tantos anos depois, a minha Escola Primária, pintada de fresco e cheia de balões.

Eu era do tamanho dos meus nove anos e o mundo era pouco maior que o meu quintal, pouco maior que o desenho das ruas até à escola, pouco maior que os passeios raros à praia. Abril era um mês em que as noites ficavam ligeiramente menos quentes, não obstante as estrelas continuarem enormes e as mangas saborosas.


Nesse Abril os adultos ficaram mais calados e havia uma tensão no ar, uma tristeza colada às coisas, quase medo. Mais tarde mesmo medo, denso e escuro. Faz-se agora a história dos que retornaram, devia também ser contada pelos olhos das crianças. Eu fui uma dessas crianças.


Muito mais tarde, só muito mais tarde entrei na festa e soube o que era um cravo vermelho. Nunca deixei de chorar por uma terra que ficou para trás e deixou de ser minha, mas nunca hesitei no brinde à independência daquele país, à liberdade. Somos às vezes ambíguos nos sentimentos, mas a razão, essa é luminosa.

~CC~

11 comentários:

Carla disse...

as tuas lembranças são as minhas memórias
bom fim de semana
beijos

isabel mendes ferreira disse...

luminoso e quente abril. o teu. nosso. que seja sempre .






beijos.

Gregório Salvaterra disse...

Sempre!
Beijo
*jj*

Anónimo disse...

Houve um frêmito, apenas uma ondulação, um esgar morno.No hemisfério sul, as garras eram mais suaves, as notícias dissolvidas pelas horas de distância, tinham já perdido as suas arestas.
Mas lembro-me do medo, de perder o que mais tinha, uma vida de rua e liberdade aos 15 anos e o meu príncipe da paracuca. Foi o meu 25 de Abril.
Meses mais tarde o frio tomava conta de mim, e o calor das RGA's das minhas cordas vocais, mas gostei imenso de sentir o sopro de despegar as almas do medo. T

E. disse...

O meu bairro era no Prenda. Nem bom nem mau, apenas um bairro como outro qualquer, com árvores, pouco trânsito e o mar ao fim da rua. Parece que tinha piada, mas a memória falha-me nesse tempo.

cs disse...

tão bonito este texto. senti-o pk o vivi, também, assim.
:))

clorinda disse...

Nunca fui a África mas é como se lá tivesse nascido.
Belas as tuas recordações!
abraço
Clo

Mar Arável disse...

Memória fresca de cravos

luminosos

Cristina Gomes da Silva disse...

Rapariga, tens um desafio lá na poeira

Anónimo disse...

Senti uma alegria completamente exacerbada
e fui para a rua, para todas as ruas, cantar a felicidade de começarmos a viver o que tanto tínhamos sonhado.

Foi belo o sonho

CCF disse...

A todos um beijo vermelho-azul e obrigado por terem vindo.
~CC~