sábado, dezembro 01, 2007

Dezembro primeiro

Pelo mês mais belo do ano caminhamos pelas estradas do Alentejo procurando a Igrejinha porque é lá que a lareira se acende com o coração aberto e o ensopado de borrego na mesa.


Pelo mês mais triste do ano vamos pelo Alentejo que é o único lugar onde eles ainda não chegaram em número assustador: centros comerciais onde as pessoas se afogam umas às outras em coisas de que não precisam.


Pelo mês mais frio do ano caminho com o casaco roxo semelhante ao xaile e a cor que é da moda é ainda e sempre a minha primeira cor, aquela que vesti na adolescência até à exaustão, quando ela era absolutamente fora de moda.


Pelo mês mais quente do ano levo as meninas ao campo, na esperança que lavem o seu olhar com o verde dos sobreiros e esqueçam os brinquedos electrónicos que carregam como uma doença.


Na Igrejinha o tempo corre devagar e o vinho e os doces ficam sempre sobre a mesa pela tarde dentro enquanto se canta.


Este é o Dezembro segundo, ano dois na Igrejinha. Somos menos este ano, mas ainda assim tragos os abraços envoltos no cheiro do fumo.


E penso que para o ano gostaria de voltar ao Alentejo, porém com uma pequena diferença capaz de anular a tristeza que hoje se misturou com a alegria. Para o ano o meu bloco de notas poderia ir cheio, hoje ele foi vazio. E nem o coração cheio de África foi capaz de me compensar desse branco.
~CC~


Nota: dia 1 de Dezembro, na Igrejinha, juntamos a "escola de Lisboa", um grupo de doutorandos que sonham daqui a um tempo partilhar na academia as suas notas de campo sobre objectos de estudo mais ou menos diversos, sob o chapéu pomposo de "Conhecimento, decisão e acção pública".

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