terça-feira, dezembro 11, 2007

Café (III)

O aroma quente dos bagos vermelhos vivia comigo deste sempre. Odiava, contudo, o branco que era preciso juntar-lhe. Mais tarde soube quais eram os nomes de baptismo da mistura que me nauseava: meia de leite, galão e mesmo garoto. O gosto pelo cheiro do chá e do café em estado puro contrastava com o que emanava de qualquer um deles mal se juntava uma pinga de leite. A rejeição na infância levava-me a beber, quando obrigada, de olhos fechados, custava menos se não visse.

Mais tarde acreditei que a mistura era um bom modo de matar a fome, em conjunto com as maçãs vermelhas ou verdes. Bebia galões de leite gordo, acabado de vir da vacaria do fundo daquele quintal em que brincavámos às escolas, no tempo em que o futuro do país e o nosso ia ser a agricultura. Era com R que os bebia, ele adorava, eu torturava-me.

Tudo isto foi no tempo anterior à espuma de leite. Foi no tempo anterior aos desenhos feitos a chocolate no branco imaculado a cobrir levemente o aroma quente. Tudo isto foi antes do Magnólia.

Agora vou a Lisboa por um capuccino do Magnólia. Venho de lá com a espuma nos lábios, o chocolate na pele e o quente na alma, feliz por mais uma coisa tão pequena me fazer feliz.
~CC~

1 comentário:

Gregório Salvaterra disse...

Esse aroma de capuccino do Magnólia até se bebe nas palavras com que o dizes.
Beijo
*jj*