sábado, abril 30, 2011

ALMAR V

Uma criança Almar é como qualquer outra rasgada pelo desejo de saber. Por isso lembrou-me como a resposta da mulher velha não tinha saciado a menina que eu era. Ela indagava: diz-me, diz-me o que pode nascer destas sementes? E a sua voz baixa, quase monocórdica: o que tu quiseres, o que tu quiseres, diz-me o que queres tu. E a criança sem compreender a pensar que aquilo que era um tesouro não podia ser o nada, tinha que ser o tudo.

Uma semente devia dar origem a uma bananeira, porque a banana é como o pão a saciar a fome. Uma semente devia ser uma faísca eterna, capaz de atear o lume em qualquer circunstância, mesmo quando a lenha respira chuva. Uma semente devia ser um isco que atraísse sempre os peixes, mas que ao mesmo tempo nunca se gastasse, permitindo trazer para casa apenas os suficientes para que no mar ainda pudessem sobrar muitos. Uma semente devia dar origem a uma árvore tão grande, tão forte e tão frondosa como um embondeiro, uma árvore como uma casa ou uma casa árvore. E a última semente, a última devia dar a flor de maracujá, uma flor capaz de durar sempre, uma flor sem morte. A mulher velha disse: cada criança Almar tem um sonho para estas cinco sementes e elas são, elas são exactamente todos esses sonhos.


~CC~

1 comentário:

Margarida Belchior disse...

Muitas "sementes"!! ... :-)

Bjs e mto bom trabalho