Esperou 25 anos para mergulhar no segredo dos olhos dela, e chamou a isso uma não vida. Ambos casaram, ela teve filhos. Que chamaremos a essa parte da sua vida. Um longo intervalo. Um vazio. Uma espera. Ou antes uma séria tentativa de se esquecerem, de outros mergulhos. Ela ficou nos olhos dele a despedir-se na estação de comboio, a despedir-se. Mas ele nunca se despediu dela, em vez disso, lembrou-a todos os dias. É sempre assim quando queremos esquecer.
Mataram a mulher dele, nesse mesmo dia em que ela trazia a camisa às flores, e lhe tinha feito um chá de limão, doces os seus olhos. E ele também não pode esquecer, também levou 25 anos a lembrá-la. São estes os dois homens, os dois mergulhados, imersos nos olhos das suas mulheres. E tudo isto se passa num dos países mais belos do mundo, mais tristes, essa Argentina que canta a sua dor e a dança ao mesmo tempo. É um canto que abafa.
E depois de 25 anos sabemos que quando a imagem da porta se fecha diante de nós, há mergulhos de olhos nos olhos que esperaram por ser uma vida. E lábios, pensamos nos lábios deles, toda uma vida a começar.
~CC~
(Belo, muito belo o filme " O segredo dos seus olhos").