Há um Agosto desconhecido de todos os habitantes do Sul. Um Agosto a Norte em que ainda se ouve pujante um francês de emigrante a varrer várias gerações de uma história que pensavámos estar acabada. Nós não sabemos o que é estar às 15h de um sábado nas termas em Chaves, de repente há um Portugal desconhecido que nos irrompe em vestidos de domingo e penteados com rolos, que dança descalço na relva enquanto o rádio dos carros investe num foclore pimba. Estas pessoas, quem são? O que as move? Tenho um genuíno interesse por saber quem são.
Fecham os olhos para beber com golinhos pequenos a água quente que tudo cura, mais além pararão para um farto piquenique. Vi um jovem de cerca de 20 anos e crista de galo benzer-se quando passou em frente à Igreja. Além adiante há mais um santuário cheio de mulheres a galhofar, homens mais adiante, em pose de Domingo. Há uns miúdos a casar-se com roupas incompatíveis com o século XXI. O comboio que percorre a zona turística vai cheio de gente que acena, grita e canta. No Sul todos estes comboios partem e chegam vazios. Miguel Gomes antes de Tabu trouxe-nos este querido mês de Agosto de feiras e romarias, fez esse retrato com a mesma incredulidade e com o mesmo carinho que eu sinto.
Contudo, ele foi um pouco mais generoso que eu. Em alguns momentos invade-me um repúdio impossível de controlar. É a maldita distância, o outro lugar que eu habito, como se entre este mundo e o meu houvesse um desfiladeiro em que é impossível caminhar. Eu vejo-os como outros. Gostei muito e, no entanto, assim que a paisagem entra no sul, sinto-me em casa.
~CC~