Tem um nome bonito:
FIAR. Fiar, uma arte que não sendo na rua, como acontece com este festival, sai das mãos, dos longos serões dos dedos e dos fios. Assim são também estes espectáculos, começamos por ver apenas um fio, e só no fim a magia se revela inteira. A rua era o palco natural do teatro, a noite inteira e meia lua brilhante.
Do Pino do Verão, essa descida poética pela encosta do castelo, ao som da orquestra, já muito foi dito. Este ano apanhei-a quase no fim, só consegui chegar praticamente para os aplausos. Quando se vê pela primeira vez sentimos estremecer o coração, depois, mais habituado, já consegue bater só mais forte.
Mas esta noite vi duas belas peças recortadas pela noite, uma nos telhados do cine teatro (que bela ideia esta de habitar os telhados) e outra num pequeno largo, penso que de nome "passo da formiga". Das noivas trapezistas, guardei a beleza vagorosa das suas asas esbeltas, verdadeiras mulheres pássaro, aladas e guerreiras, e ainda assim tão terrenas que lutavam por um vestido branco de noiva. Dos seres cinzentos, temerosos, de rostos só com olhos (poderosas máscaras) habitando caixas frágeis, guardei-lhes o medo dos seres humanos, ao mesmo tempo que revelavam um desejo imenso pelo contacto, pela comunicação, uma vontade de cruzar a fronteira do outro. Acabaram a servir sopa quente ao público, e nunca tinha visto tantos meninos com vontade de comer sopa. Impressionantes as suas caixas móveis, mistura de abrigos de guerra, casas confortáveis, carros sem rodas, lojas ambulantes. Teatro alemão de rua.
O Verão é também isto, a noite na rua, uma outra vida a acontecer.
~CC~