Na semana passada, demos a volta de carro com os mais velhos à cidade de provincia que o presidente diz querer tornar a capital do sul, embora há muito o seja. Este ano são notícia as luzes de baixo consumo, mas para quem as pensaria menos brilhantes, não são. Está bonita a baixa da cidade, quase toda em luz azul, acho-a mesmo com mais encanto do que em anos anteriores e muito mais luminosa, excepção aos tapetes vermelhos pirosos que cobrem o chão das ruas principais. Sinto-me que uma parte de mim está ali, sei onde ficam as coisas e quais são os melhores lugares para tomar café e comprar o jornal.
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No sábado quis mostrar à adolescente as luzes da baixa lisboeta, agora que ela começa a achar a cidade bonita e que desfeita a vida que lá vivi entre filas intermináveis, também gosto mais dela. Mas ou os meus olhos se tornaram mais exigentes, ou não vi nas meia dúzia de ruas iluminadas grande fulgor ou beleza, pareceu-me tudo muito inferior a outros anos e até ao brilho da pequena cidade do sul. Desde que venderam as árvores de Natal às operadoras de telemóvel e afins, olho para elas com uma suspeita que dantes não tinha. A noite já tinha sido salva pela orquestra juvenil da cidade de Lisboa e pelos três coros que se lhe juntaram para fazer da aula magna uma festa linda inspirada em Verdi. Lá no meio, sentada entre os jovens, a nossa amiga mais velha, tinha um sorriso grande e generoso, por mais que se mantivesse séria e concentrada na sua função.
Cheirei quase vinte perfumes na perfumaria para escolher os adequados, e deixei na mala os papelinhos perfumados numa mistura de odores perfeita para os sentimentos ambiguos que o mês de Dezembro me desperta. Tudo isto nos pode parecer um gigantesco circo comercial que importaria recusar, ainda para mais quando a religião não faz efectivamente parte das nossas vidas e quando sabemos hoje que Cristo nasceu em meados de Abril, quando sabemos que tudo não passa de uma construção mais ou menos artificial, montada com propósitos vários.
Mas há uma parte de mim efectivamente rendida ao brilho destas luzes que iluminam as noites frias de Dezembro, e tiro um a um os papelinhos perfumados tentando reconhecer o cheiro dos que efectivamente comprei. Pensei em determinadas pessoas ao comprá-los, de como gostam de andar perfumadas e de como as gosto de sentir assim, logo eu que praticamente não uso perfumes. Talvez seja isto, talvez nos faça pensar nas pessoas a quem damos presentes.
~CC~