Oiço-os de um e do outro lado falar de uma vida que é também a minha. Vejo o rosto tenso e duro da Ministra da Educação, de certa forma há um desconsolo profundo nela. Vejo os rostos vitoriosos de quem desce a avenida unido numa causa comum, agora parecem felizes, mas conheço bem o cansaço que trazem acumulado. Um cansaço maior e além deste modelo de avaliação. É a escola, é o seu modelo de ser escola que já rebenta pelas costuras. Era essa a luta que gostava mesmo de travar: uma outra escola.
Vejo como na vida me tem sido sempre tão difícil fazer estas escolhas, estar num ou no outro lado da fronteira. Compreendo as razões de um e do outro lado e isso torna-me vulnerável, presa de um e do outro lado. Lembro as muitas situações em que me encostaram à parede, obrigando-me a uma escolha impossível. Fiquei sozinha, sou sozinha de certo modo, creio que o serei sempre. Em muitas situações, nunca poderei estar inequivocamente com os vencidos ou com os vencedores. Creio que os professores deveriam gritar na rua que querem ser avaliados. Esta é a mensagem principal, a outra é que querem um modelo de avaliação alternativo a este.
Eu gostava de ter sido avaliada como professora nas várias dimensões em que exerço a minha profissão, desde a sala de aula, às propostas e projectos, à relação e inserção nesta comunidade onde a minha escola se insere. Creio que se tivesse sido avaliada, não estaria na péssima situação em que hoje estou. Nunca, ou quase nunca, as competências que temos e as que conquistamos foram o essencial da avaliação na profissão que exercemos e essa é uma das tragédias portuguesas.
Grito portanto na rua que sou a favor da avaliação e que não a podemos suspender, nem adiar. Mas grito também contra alguns dos erros que estão a ser cometidos, desde logo por essa divisão absurda entre os professores titulares e não titulares, designação do mais infeliz que conheço. Não estou por ora na fileira dos que serão avaliados pois a avaliação do exercício da profissão no ensino superior não é para já, mas virá também.
Sublinho que adoro esta profissão, creio mesmo que a maior parte de nós que a temos, gosta muito dela. E é nisso que a ministra falha e era essencial que acertasse: desde sempre que lhe falta reconhecer o valor de quem todos os dias entra nas salas de aula com prazer.
~CC~