Uma amante perfeita era como Lola era. Até o nome dela era o de uma amante perfeita. Os encontros eram regulares e sem falhas, mas se ele falhava, ela não dramatizava, ficava apenas para outro dia. Nunca, em todos aqueles anos, falara da sua mulher, muito menos pedira que a deixasse. Deixava-o falar dos filhos e ouvia-o mas não mostrara vontade de os conhecer. Não lhe pedia presença em acontecimentos públicos, tinha muitas amigas com quem ir. Lola odiava o Natal e as festas de aniversário, por isso nunca exigiria a sua presença em tais eventos, normalmente ia viajar. Lola nunca enviava sms, quanto muito respondia aos seus. Em tudo parecia uma mulher de bem com a vida.
Tudo era bom e perfeito, um triângulo sem mácula, pelo menos era o que ele pensava. Até um dia. E não fora ela, fora ele. Tanta perfeição tinha criado nele a dúvida. Seria o único? Ela amava-o? Os seus amigos e colegas diziam que todas as mulheres amam com posse e ciúme, por isso ela não o amava. Ele, na realidade, não lhe fazia falta. Ele era uma espécie de refeição, uma vez degustada, estava terminada. Ele era um adorno, ficava bem com o resto da roupa, mas não era essencial. A dúvida minou-o e enraiveceu-se com a sua própria dúvida. Pensou pedir-lhe justificações, persegui-la, fazer-lhe perguntas. Não tinha, contudo, perdido toda a decência, olhava com pena para a forma como se estava a tornar ridículo. Então explicou-lhe tudo numa única frase de despedida: ele não era homem para uma amante perfeita.
~CC~