terça-feira, agosto 23, 2011

Entardecer no final do Verão


Há muito vento a sul, apesar do sol. Um vento que varre a areia da praia e a levanta no ar para se colar às nossas costas e invadir as toalhas. Um vento que enrola ondas grandes no mar quente. Os chapéus de sol fecharam-se. Resistimos como podemos, ficarmos é um modo de não deixar o Verão acabar já, não queremos.

Do lado da ria o vento é mais fraco, sente-se apenas na força da corrente. Há muitos meninos e meninas fugidos à fúria das ondas da costa. Andam à procura de caranguejos com copos de plástico, e gritam a plenos pulmões quando conseguem finalmente aprisonar um deles no copo: caranguejooooo!!!! Levam aos adultos o produto do seu labor num grande entusiasmo, e eles espreitam para dentro dos copos para murmurar sérios: soltem-no.

A menina dos carrapitos louros com vestido vermelho às bolinhas brancas também gritou caranguejo na sua vozinha sumida de três anos ainda mal feitos, e segue os rapazes para todo o lado como uma sombra. Nenhum deles lhe mostrou o caranguejo, para eles é ainda uma bébé com a qual não se partilham tesouros. Ela fica a ver, e bate palmas quando eles ensaiam acrobacias.

- Vamos correr abraçados?
- Vamos até à água abraçados e depois mergulhamos...
- Ok

A mãe da menina veio tirar-lhe o vestido vermelho das bolinhas brancas, por baixo escondia-se um fato de banho quase tão branco como ela, a menina já pode molhar-se até ao joelho. Algum dia apanhará caranguejos?

~CC~

PS. Prolongar o Verão, eis onde ocupo a maior parte do meu tempo. Não me roubem um dia, uma hora, um minuto....









segunda-feira, agosto 15, 2011

Azul (2)

Angra, Agosto 2011




Azul, também no templo de bem rezar, sempre ao espírito santo, omnipresente feito pedra e cor em qualquer ilha.


~CC~


domingo, agosto 14, 2011

Azul (1)

Lugar da Fonte. Ilha do Pico


Olhos lavados de azul.


~CC~




sábado, agosto 13, 2011

Árvore





Os Dragoeiros crescem lentamente, absorvendo cada ondular do vento atlântico. Trazemos sementes, já a brisa marítima não coube em nenhum sítio, e sem ela...


~CC~



quinta-feira, agosto 11, 2011

Ainda a Cidade


Magma

uma história

(para ~A~ e *JJ*)

Ana e João, 14 anos, deitados nos muros altos que ladeiam a baía de Angra. Ana e João, para eles a sua amizade está inscrita nas coisas que o vento jamais pode levar, por mais forte que sopre.

- Vamos jogar a dizer o que mais detestamos nesta cidade
- Ok
- A loja de bordados da minha mãe.
- A areia preta da praia.
- Estas casinhas dos santos a que chamam Impérios e nem sei porquê.
- O Monte Brasil que não é uma montanha verdadeira como o Pico nem é um vulcão a sério como há no Faial, é só um montesinho de nada que nos faz subir metade da cidade
- Este maldito tempo sempre húmido
- Os sismos, o medo dos sismos!
- Dizem que somos namorados...
- Isso já não faz parte do jogo!
- Mas eu gosto da Rita
- E eu gosto do Rui
- Já viste...são RR...
- Pois...
- Se houver um sismo agora...
- Não vai haver!
- Vai sim, a qualquer momento!
- Onde nos encontramos se houver?
- No Império amarelo, o que fica no cimo desta rua, no início da Freguesia da Sé
- Vens mesmo?
- Apareço, espera-me.


E aconteceu, em 1980, meses depois desta conversa entre a Ana e o João. Poucas foram as casas de Angra que ficaram de pé. João conseguiu ir até ao Império, mas Ana nunca mais apareceu. João procurou-a por toda a cidade assim que pode. Da casa de bordados dos pais dela não sobrou nada, hoje é um café. Da casa onde Ana morava só o Dragoeiro podia falar dela. Assim que fez 18 anos João saiu para estudar, primeiro Lisboa, depois França. E ficou muito tempo sem voltar aos Açores, mas cedeu já adulto, a pedido de vários amigos franceses e das duas filhas pequenas.


Não esperava encontrar Ana no roteiro turistico, mas foi isso que aconteceu. Era geóloga, apaixonada pelos vulcanismo tinha feito a sua formação em Geologia e era responsável por um dos lugares mais procurados pelos Turistas na Ilha Terceira. Nunca tinha saído de Angra. João teve dificuldade em acreditar que nunca mais a tinha visto numa cidade tão pequena, mas ela tinha ido viver uns tempos para casa dos avós nas Doze Ribeiras. Uma amizade pode reatar-se intacta depois de tantos anos?


-Vamos jogar ao jogo onde ficámos?

- Achas que agora adultos conseguimos?

- Sim, não estamos aqui deitados na mesma pedra quente do muro?

- Então diz!

- Porto Pipas é dos mais belos lugares do mundo.

- Pois é.

- E amo esta praia pequenina de areia preta onde as cores das toalhas brilham

- Sem dúvida

- E a água entre o frio e o quente, tem a temperatura mais adequada que há.

- É óptima, as minhas miúdas adoraram.

- E aprendes sobre as plantas do mundo inteiro se subires lá acima ao jardim

- E vês as duas costas da Ilha

- Funcho, funcho em tudo, é do melhor

- Já nem me lembrava do sabor...mas é bom. Espera lá...e o teu medo dos sismos?

- Sim, ainda existe, nunca desaparece.

- Olha que a terra parece que está a tremer um bocadinho...

- Oh, estes é dos pequeninos.


~CC~

Uma cidade

A, primeira letra do alfabeto amor. Agosto 2011


Queres que escolha uma cidade para nascer outra vez? Nascer no meio da vida, já cheia de passado e ainda a balbuciar a palavra futuro. É esta, pode ser aqui.

É esta. Olha bem, vê se consegues qual é, diz-me que sabes porquê.

~CC~