quinta-feira, agosto 11, 2011

Ainda a Cidade


Magma

uma história

(para ~A~ e *JJ*)

Ana e João, 14 anos, deitados nos muros altos que ladeiam a baía de Angra. Ana e João, para eles a sua amizade está inscrita nas coisas que o vento jamais pode levar, por mais forte que sopre.

- Vamos jogar a dizer o que mais detestamos nesta cidade
- Ok
- A loja de bordados da minha mãe.
- A areia preta da praia.
- Estas casinhas dos santos a que chamam Impérios e nem sei porquê.
- O Monte Brasil que não é uma montanha verdadeira como o Pico nem é um vulcão a sério como há no Faial, é só um montesinho de nada que nos faz subir metade da cidade
- Este maldito tempo sempre húmido
- Os sismos, o medo dos sismos!
- Dizem que somos namorados...
- Isso já não faz parte do jogo!
- Mas eu gosto da Rita
- E eu gosto do Rui
- Já viste...são RR...
- Pois...
- Se houver um sismo agora...
- Não vai haver!
- Vai sim, a qualquer momento!
- Onde nos encontramos se houver?
- No Império amarelo, o que fica no cimo desta rua, no início da Freguesia da Sé
- Vens mesmo?
- Apareço, espera-me.


E aconteceu, em 1980, meses depois desta conversa entre a Ana e o João. Poucas foram as casas de Angra que ficaram de pé. João conseguiu ir até ao Império, mas Ana nunca mais apareceu. João procurou-a por toda a cidade assim que pode. Da casa de bordados dos pais dela não sobrou nada, hoje é um café. Da casa onde Ana morava só o Dragoeiro podia falar dela. Assim que fez 18 anos João saiu para estudar, primeiro Lisboa, depois França. E ficou muito tempo sem voltar aos Açores, mas cedeu já adulto, a pedido de vários amigos franceses e das duas filhas pequenas.


Não esperava encontrar Ana no roteiro turistico, mas foi isso que aconteceu. Era geóloga, apaixonada pelos vulcanismo tinha feito a sua formação em Geologia e era responsável por um dos lugares mais procurados pelos Turistas na Ilha Terceira. Nunca tinha saído de Angra. João teve dificuldade em acreditar que nunca mais a tinha visto numa cidade tão pequena, mas ela tinha ido viver uns tempos para casa dos avós nas Doze Ribeiras. Uma amizade pode reatar-se intacta depois de tantos anos?


-Vamos jogar ao jogo onde ficámos?

- Achas que agora adultos conseguimos?

- Sim, não estamos aqui deitados na mesma pedra quente do muro?

- Então diz!

- Porto Pipas é dos mais belos lugares do mundo.

- Pois é.

- E amo esta praia pequenina de areia preta onde as cores das toalhas brilham

- Sem dúvida

- E a água entre o frio e o quente, tem a temperatura mais adequada que há.

- É óptima, as minhas miúdas adoraram.

- E aprendes sobre as plantas do mundo inteiro se subires lá acima ao jardim

- E vês as duas costas da Ilha

- Funcho, funcho em tudo, é do melhor

- Já nem me lembrava do sabor...mas é bom. Espera lá...e o teu medo dos sismos?

- Sim, ainda existe, nunca desaparece.

- Olha que a terra parece que está a tremer um bocadinho...

- Oh, estes é dos pequeninos.


~CC~

1 comentário:

Gregório Salvaterra disse...

Ai as brumas...
Beijo
*jj*