segunda-feira, maio 03, 2010

Way (II)

Cáceres, Maio 2010

Procurei sempre nas ruas estreitas os vestígios de sol. Sei da sua sombra na pedra e na pele. Não é, nunca foi o cansaço dos caminhos a latejar nas pernas alguma vez um obstáculo. O maior obstáculo é o cinzento entrar dentro do vermelho sangue e deixar-se ficar como se ali fosse a sua morada. Há em cada tempo mais difícil um traço próprio, o desenho da dor nunca é exactamente igual, nem as lágrimas sabem ao mesmo, e isso quando existem.

Este é o tempo dos mais velhos nos pedirem um abraço que possa afugentar a sua doença, a sua terrivel solidão, é este tempo de os ver entrar no hospital com os seus olhos cinzentos. É tempo de lhes perdoarmos tudo o que não nos foram, de buscar no fundo do tempo as noites em branco que um dia nos deram.

E enquanto eles lutam pela sua vida, os mais novos esgotam-nos em mil pedidos cheios de alegria, frenéticos de Primavera, tontos da luz que a adolescência lhes traz aos olhos. Por uns momentos na cidade de pedra silenciosa num primeiro de Maio sem bandeiras nem gritos, deixei-me ficar para trás, apeteceu-me esquecer-me de quem eu prória era, renascer feita branco paz, limpa de feridas e de histórias, inteiramente pronta para dias novos.
~CC~

1 comentário:

Margarida Belchior disse...

Têm um ritmo próprio estes movimentos de renascimento que a Primavera nos traz, cada ano com uma cor e sabor.
;-)

Bjs