São raras as mulheres talhantes. Esta era alta e forte e assustava quando pegava na faca para esquartejar os pedaços mortos dos bichos. E estava estranhamente bem disposta, gracejando com o colega sobre o filho do Ronaldo.
Contava o que tinha dito ao marido. Contava ao marido que não se importaria de ser ela a barriga de aluguer do Ronaldo, mas que até o podia ser sem a mediação de tubos de laboratório e assim. Uma noite bem passada e já estava. E dava-lhe de bom grado o filho em torno de uma choruda quantia. Afinal pouco lhe custava enriquecer e fazer o homem feliz. E devia ter sido também numa transacção semelhante à que ela idealizava que a criança tinha nascido, e só tinha pena de não ser ela a anónima.
A mulher talhante, os olhos a brilharem ouro, ela deitada na beira de uma piscina, a beber caipirinhas e a comer acepipes. Ela, a contar às amigas, que antigamente as mulheres se realizavam quando eram mães, uma coisa animal entre fêmeas e crias, tretas ultrapassadas.
Ela a dizer que o marido, quando lhe falou no filho que ela teria do Ronaldo, tinha ficado estranhamente calado, pensativo.
~CC~
2 comentários:
Já sei que não existe isso
do céu e do inferno
Já sei que estamos em 1967
mas andas a dormir, dormiste
com alguns dos meus amigos?
Não é apenas uma coisa que queira saber
é a única coisa que quero saber
nada sobre o mistério de Deus
nada sobre mim próprio
nem se sou o mais belo de todos
A única sabedoria que quero ter
é sobre se estou
ou não só no teu amor
Leonard Cohen
O mercado é assim
até nos talhos
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