A menina sem banhos de mar no café da manhã, ainda ela.
E por causa dela os meus meninos sem mar de há vinte anos atrás, quando a serra de Montejunto era tão longe da linha de água salgada, a milhas do litoral. Ainda os meus meninos com olhos de terra seca, cheios de flores, mas vazios de conchas.
Os meus meninos do tempo em que eu podia dizer os meus meninos, como as professoras primárias dizem ainda, esse traço de posse do coração que atravessou dois séculos. Nunca esquecemos os nossos primeiros alunos, mas os meus, como posso esquecer os sorrisos tímidos, as vozes sumidas, os abraços fugidios. Como posso esquecer que no final dos anos 80, mais de metade nunca tivesse visto o mar. Como é o mar professora?
Se estivesse perto o mar, as ondas chegariam a ouvir-se naquela sala de aula, nunca mais, em nenhuma sala de aula de pequenos e crescidos tive um silêncio assim.
Também a menina, hoje no café, falava baixinho com a sua boneca pequenina, talvez segredando sobre conchas e marés.
~CC~
1 comentário:
No final dos anos setenta (79), esta menina via pela primeira vez o mar. Foi o pasmo, o abismo e a vertigem - tudo isso e talvez mais. :)
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