Ele pensa nos filhos outra vez em casa. A rapariga com o estúdio à venda e ninguém a aparecer para o comprar. O rapaz regressado dos seis meses a mais do Erasmus, quando nada nem ninguém podia sustentar o sonho da morada além país pequeno e periférico. Lembra-se dos conflitos deles quando eram pequenos e moravam no mesmo quarto, ainda assim tinham uma alegria que em nada se compara ao silêncio do fracasso que agora partilham.
A casa tornou-se anormalmente pequena e ninguém sorri quando o dia começa, ninguém tem pressa. Deixam-se estar por ali, rapaz e rapariga num desespero sem gritos. É como se fosse sempre Domingo, mas quando ele é apenas um dia da semana o arrastar lento das horas é doce, enquanto quando todos os dias se tornam Domingo isso é um sufoco, um peso.
O homem, o pai, saiu um dia como quem não volta. E todos pensaram o mesmo quando não deu notícias um, dois, três dias. Mas o homem tinha ido apenas junto ao rio da sua terra perguntar às marés pela vida. E as marés embalaram-no. Os pais, ainda vivos, continuavam a deitar as sementes à terra. E ele deixou-se ficar ali, a ver o que delas nascia.
A rapariga foi à procura do pai e encontrou-o e deixou-se ficar ali também. E depois o rapaz. E depois a mulher. Os avós estavam velhos, deitavam as sementes à terra muito devagar, eles podiam fazê-lo mais depressa, com mais energia. E foi o primeiro Verão que colheram juntos as melancias. Eram doces, frescas, saborosas. Eram vermelhas como corações salvos. Ninguém poderia saber quanto tempo ficariam assim em paz.
~CC~
(fim)
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