Leio Roberto Bolaño muito depressa, verdadeiramente presa do enredo que ele arquitecta, ansiosa pelo fim, por saber. Mas não gosto verdadeiramente da prosa dele, quando o acabo de ler, não sobra nada. E, no entanto, como ele vende, como ele apaixona tanta gente. Talvez ele retrate como ninguém a angústia de um tempo sem nexo, a ruptura com todas as crenças, toda a esperança. Ainda assim, preciso de o ler mais.
Leio Le Clézio muito devagar, as suas histórias são longos poemas em prosa, volto atrás imensas vezes por causa das palavras dispostas como pinturas, por causa dos rostos que quero ver. Vou e volto sem necessidade de acabar o livro, nunca me questiono sobre o fim, as histórias dele não têm verdadeiramente fim. Clézio ganhou o Nobel (em 2008), mas não vende, acho que nunca poderá vender. Gosto muito dele, excepção a um livro sobre a doença e a loucura que não consegui acabar. Clézio está fora de tudo com o seu sorriso de gigante bondoso, a sua antropologia é uma quimera de afectos em busca de um homem diferente, é um crente sem crença nem religião.
Talvez seja a esperança a aproximar-me de um, e o desespero a afastar-me do outro.
~CC~
5 comentários:
engraçado falares nestes dois autores, de facto as prosas são muito diferentes, a prosa de le clésio é bela mas a sua reflexão constante aproxima-o da Filosofia e convida a uma certa contemplação, quanto ao bolado, concordo, descreve muito bem as cenas de sexo, é cru, vertiginoso mas repetitivo, um pouco inócuo. não morro de amores por nenhum deles, a prosa contemporânea, tirando honrosas excepções como o Marai. o Naipaul, a Duras e outros de que agora não me lembro, não me apaixona, continuo a preferir o sec XIX ao XX e muito mais ao xxi. mas um dia podemos falar de escritores preferidos, aceitam-se sugestões.
Gosto muito de Marai e de Duras efectivamente. Naipaul acho que só li um livro e não me lembro qual. Mas sou curiosa, pelo que vou ler o que é novo, o que se recomenda por aí. Um dia aconteceu-me uma coisa com graça: escolhi uma opção de literatura no mestrado, cujo professor era o Carlos Reis. Entrei na primeira aula um pouco atrasada e ele disse: ah, é a senhora a última que falta, por isso só pode ser a Psicóloga...tem a certeza que não se enganou ao fazer esta opção? Fiquei certa de que aquele era um mundo muito "exclusivo", com o seu cortejo de especialistas...mas ainda assim atrevo-me sempre a entrar por esses mundos, com a humildade de quem não tem outros instrumentos de interpretação e análise que não sejam o imenso prazer que me dá ler...e é por aí que acho o teu convite para falar de escritores preferidos uma delícia...seria uma boa tertúlia!
Abraço
~CC~
Este post vem quase a calhar... há uns tempos, com a febre do Bolano e o 2666, estive para o conhecer. Ainda bem que não o fiz. Detesto artistóides que escrevem com a vida.
Quanto ao Clézio, também gosto.
sei que é vergonhoso, mas nem um nem outro. li.
mas este post fez-me ter vontade de ler. ambos.
Descobri le Clézio por acaso, em Paris , com um livrito Le Mondo et petites histoires , li e reli . Voltei á Estrela Errante , gosto de Le Clézio, mas não tanto para voltar a lê-lo... Do outro , posso dizer que sou um marginal , aborreceu-me tudo o que disseram sobre ele . Prefiro Kafka no original .
Por agora só mesmo , Herta Muller que li e reli antes do prémio , e que tem novo livro e com tradução de confiança .
um abraço
cc
________________ jrmarto
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