terça-feira, julho 15, 2008

Memórias sem voz (I)



A senhora branca e loira, de olhos claros, deixou à guarda do rapaz africano o seu bebé pequenino para ir tirar o curso de datilografia, uma possível futura ocupação que não deixaria envergonhado o seu marido, já um graduado e aspirante a comissário de polícia. A menina, igualmente branca e loira, tomou os seus biberons da tarde nos braços negros e no colo do rapaz, um par improvável para uma Angola dos anos 60, mesmo no limiar da eclosão dos movimentos de libertação. O que bebeu com esse leite e com esse colo não está na sua memória, nos seus sonhos ela bebeu aí o gosto imenso pela vastidão das paisagens ou pelo que também poderia chamar liberdade.


~CC~

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