segunda-feira, julho 14, 2008

Ficar ao pé do mar

Parece uma ideia mórbida esta de pensar na nossa morte. Há pessoas que durante toda a vida nunca pensam nela. Já a imaginei como a liberdade mais plena, mas agora só a associo a escuridão e portanto à prisão imensa do nada. Outros pensam insistentemente na sua morte, deixando recomendações claras, e entre esses, estão sobretudo aqueles que querem as suas cinzas no rio ou no mar. É como se eles fossem uma tribo, um conjunto de gente que só se irá encontrar entre a água sal ou entre a água doce, quando deles restar apenas a pequena partícula do eu que foram. Não me conto entre eles.

Até ontem não conhecia ninguém que tivesse para a sua última morada o mesmo desejo que eu. Mas se ela apareceu tão diferente de mim dentro do filme*, quando pediu agonizante ao seu amor que levasse o seu corpo para o pequeno cemitério com vista para o mar, não quis acreditar que aquelas suas palavras eram iguais às que eu própria já tinha pronunciado. Quero morrer muito velha, mas quero uma vista linda para um mar azul. E não é por engano que lhe acrescento azul, mas sim porque há mar de muitas outras cores, eu própria já estive dias e dias junto a um pedaço de tom castanho.

É claro que também serei infinita pequena partícula de nada, mas ainda assim perto do mar.
~CC~

* Paciente Inglês, comprado para revêr após todos estes anos e a preços tão módicos no supermercado que não queria acreditar que a fita fosse mesmo feita de imagens-movimento.

6 comentários:

JOSÉ RIBEIRO MARTO disse...

Não sei onde quererei ficar quando morrer, não quero a terra funda, isso, sei que não quero, mas até lá , que pode ser agora , ou daqui a pouco , preferiria um campo aberto num dia de sol , gostava de morrer na Primavera, no dia dos meus anos... Mas se as pequenas partículas ficassem num campo aberto, gostava que voassem nas asas de um pássaro marítimo ou pelo menos migratório... Nesse dia cantem-me muito canções de embalar...
O paciente inglês é um filme duríssimo , nãao sei se o reveria !

abraço CCF

JrMarto

Carla disse...

raramente penso na morte...mas um azul mar é sempre fabuloso
beijos

clorinda disse...

Olá CC
Ficar ao pé do mar é sem dúvida uma boa escolha... a mim cuja morte me liberta...espero daqui a muitos anos!
mas a sepultura me amedronta, confesso que gostaria de ser reduzida a mil partículas de pó e vadiar em harmonia com a flora, a ouvir o som da fauna, de Trás-os- Montes.
Quanto ao filme, ainda bem que é só ficção, porque apesar de todo o romantismo, é sem dúvida alguma um destino muito cruel.

clorinda disse...

Abraço e obrigada pela sua recente visita lá no meu cantinho.
Clo

João Torres disse...

Também gosto do mar...

Mas confesso que para última morada preferiria uma vista sobre castanheiros lá na serra de Bornes num souto que atravessei muitas vezes em criança!

CCF disse...

JRM, tão bonita essa imagem de morrer na Primavera no dia dos teus anos, mas daqui a muito, muito tempo...sim!

Carla, é porque deves amar muito a vida e fazes bem :)

Clo e JVT, não deve ser por acaso Trás os Montes :)

Abraços quatro
~CC~