sexta-feira, março 21, 2008

Poesia-dia

Pensão Sombra, Angola, Setembro 2007


Os livros dos poemas estavam na mesa dos cafés, nos bancos dos jardins, nos bares das escolas, encaixados nos transportes públicos, pendurados nas estantes dos átrios dos hotéis, a espreitar-nos debaixo das barraquinhas de madeira da praia, viviam paredes meias com as praças das cidades e das aldeias, andavam pelas mesas dos bares e das discotecas e deitavam-se connosco, em perpétua viagem para dentro dos nossos sonhos.


E no supermercado estavam lado a lado com o pão, como necessidade primeira de alimento.


A poesia oferecia-se em todos os lugares, numa luta sem tréguas pela imaginação, pelo calor do sangue, pela sonoridade da palavra, pelo brilho do olhar, numa luta, numa luta contra as palavras mal temperadas, descosidas e banais.


A poesia oferecia-se, devia oferecer-se. E os poetas seriam todos pagos pelo erário público como bem essencial. Os poetas andariam pelas ruas, pelos cafés, pelas escolas, pelas praias, pelos supermecados. Os poetas deixariam os seus poemas escritos pelos guardanapos de papel, pela areia, pelas embalagens, pela primeira página dos jornais, pelas nuvens, pelas paredes das casas, nos beijos postos nas nossas faces.


E a poesia não precisaria mesmo de dia, deste dia.


~CC~




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