segunda-feira, agosto 20, 2012

Agosto, essa aldeia

Há um Agosto desconhecido de todos os habitantes do Sul. Um Agosto a Norte em que ainda se ouve pujante um francês de emigrante a varrer várias gerações de uma história que pensavámos estar acabada. Nós não sabemos o que é estar às 15h de um sábado nas termas em Chaves, de repente há um Portugal desconhecido que nos irrompe em vestidos de domingo e penteados com rolos, que dança descalço na relva enquanto o rádio dos carros investe num foclore pimba. Estas pessoas, quem são? O que as move? Tenho um genuíno interesse por saber quem são.

Fecham os olhos para beber com golinhos pequenos a água quente que tudo cura, mais além pararão para um farto piquenique. Vi um jovem de cerca de 20 anos e crista de galo benzer-se quando passou em frente à Igreja. Além adiante há mais um santuário cheio de mulheres a galhofar, homens mais adiante, em pose de Domingo. Há uns miúdos a casar-se com roupas incompatíveis com o século XXI. O comboio que percorre a zona turística vai cheio de gente que acena, grita e canta. No Sul todos estes comboios partem e chegam vazios. Miguel Gomes antes de Tabu trouxe-nos este querido mês de Agosto de feiras e romarias, fez esse retrato com a mesma incredulidade e com o mesmo carinho que eu sinto.

Contudo, ele foi um pouco mais generoso que eu. Em alguns momentos invade-me um repúdio impossível de controlar. É a maldita distância, o outro lugar que eu habito, como se entre este mundo e o meu houvesse um desfiladeiro em que é impossível caminhar. Eu vejo-os como outros. Gostei muito e, no entanto, assim que a paisagem entra no sul, sinto-me em casa.

~CC~

6 comentários:

Anónimo disse...

Depois publicarás uma foto da real ficção que é o "(meu)querido mês de agosto".
E beijos que ainda sabem a alheiras e cuvilheiros e verde tinto da malga...
*jj*

apicultor disse...

Não sei se o Portugal do sul não será igualmente distante do restante país urbano. Mas num modelo de distancia diferente...

apicultor disse...

Não sei se o Portugal do sul não será igualmente distante do restante país urbano. Mas num modelo de distancia diferente...

CCF disse...

Olá apicultor.
Tem razão em parte. Contudo, a paisagem emigrante a Norte é muito mais intensa, o que traz neste mês de Agosto em particular, outras notas/cores/sons.
Obrigada pela visita.
~CC~

Margarida Belchior disse...

... mesmo sobre os desfiladeiros é possível construir "pontes" ...

:-)

Beijinhos grds

deep disse...

O Portugal a Norte é, sem dúvida, mais marcado pela emigração. Foi exactamente essa comparação que fizemos depois de uns dias por terras alentejanas, onde quase não se viam carros com matrícula estrangeira, nem se ouvia o "françuguês" ou o "portunhol". :) Um abraço do Norte para o Sul.