domingo, abril 25, 2010

Dizer sempre

As frases banalizaram-se mas se fecharmos os olhos sobre elas e as respirarmos têm uma beleza cortante. Uma actualidade tão grande que o grito nos seca a garganta. Uma urgência ainda, como se o mundo fosse outro e afinal ainda o mesmo. Não sabemos talvez quem são os responsáveis pelas lágrimas que vemos espalhadas pelos rostos sem esperança, talvez cada um de nós o seja também, e ainda o vizinho do lado. Isso torna a revolta mais difícil, os poderosos, os ricos, os políticos eram figuras de carne e osso nas canções de antes, mas hoje são sombras de que não apalpamos os contornos. As revoluções alimentam-se de simplicidade, de carne fresca, de sorrisos lavados, de vozes afinadas só pela alegria. Nada disso ontem havia junto ao rio, a Grândola canta-se de braços caídos e olhos no fogo de artifício. E ainda assim o que nos traz, o que traz tantos, o que nos faz sair para as praças, para as ruas, para o meio das pessoas? Traz-nos este grito que ainda sentimos cá dentro, um travo a papoila, flor frágil e tão brava do campo. Abril é ainda um mês de uma beleza sem igual no calendário apressado dos anos.
~CC~

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