terça-feira, março 02, 2010

País

A obra dura há muito tempo, ou seja, foram já ultrapassados os limites que tinham sido colocados para o seu término. Assisti durante meses ao modo como foram colocadas uma a uma as pedras da calçada portuguesa, adornando de forma bonita o parque de estacionamento, esse também feito de pedras, mas mais escuras.

Quando finalmente a vasta área de calçada chegou ao fim, vieram umas máquinas colocar umas placas de protecção, a separar a linha de comboio do parque. Passaram uma e duas vezes por cima das pedras brancas e das pedras pretas, mas as brancas não resistiram ao peso das máquinas. A vasta área de calçada tornou-se um monte de poças de água e lama, e várias pedras saltaram completamente fora do lugar, como se esta obra tivesse já anos. Hoje, vários homens colocavam outra vez as pedras no lugar e tentavam endireitar as ondas do chão. Amanhã talvez venham as máquinas pesadas outra vez pisá-las com força desmedida.

E é assim que (não) se faz um país.
~CC~

3 comentários:

sem-se-ver disse...

exactamente

:-(

Gregório Salvaterra disse...

Parece que é uma cultura nacional...
Era tão fácil, bastava que todos tivessem conscientes do que estavam a fazer. Se eu mandasse na obra, havia de espalhar por todo lado a seguinte frase: "estamos a construir uma estação bonita!" (ou então, "uma estação como deve ser")e sempre que um operário pegasse numa pá, havia de ler no cabo essa inscrição; sempre que um manobrador ligasse a ignição de uma escavadora via essa frase na sua frente; nos rótulos das minis, nos coletes reflectores... para que todos lessem a toda a hora e não andassem constantemente a estragar o trabalho uns dos outros.
Bjs
*jj*

Margarida Belchior disse...

Parece que somo todos muito cultos e que lemos todos o Ulisses e aprendemos muito bem como a Penélope tecia durante o dia e desfazia o que tinha feito, durante a noite, ... à espera do seu amado ...

Por que amado esperamos nós?
:-)

Bjs