quinta-feira, março 18, 2010

Lugar nenhum

Ele disse: o seu texto é demasiado literário para um texto académico.

Eu pensei: demasiado literária para ser académica, demasiado académica para ser prática, demasiado prática para ser académica, e demasiado académica para ser literária.

Mas disse-lhe: mas a realidade é o resultado de um jogo de espelhos.

Ele calou-se. Os outros também. Fez-se silêncio na sala. A frase caiu no caixote do lixo e eu fui com ela.

Eu pensei: sou uma personalidade fronteira, o que na psicologia chamamos border line, não estou em lugar nenhum.

Mas disse-lhe: desde o princípio que quis contar uma história a várias vozes.

Ninguém respondeu.

Vim para casa a pensar em mim como border line, terrivelmente triste. Mas depois pensei que não é bem assim, nunca deprimi, tenho uma saúde mental de ferro.

E apeteceu-me um passeio de bicicleta, um banho de mar, um beijo.

Se calhar consigo viver em lugar nenhum.

~CC~

2 comentários:

Margarida Belchior disse...

Claro que consegues!! :-) Tens sempre conseguido e a corrida de fundo já vai bem longa!!

:-)

Bjs e até...

Gregório Salvaterra disse...

Eu sei dum sítio perfeito.
Encontramo-nos lá.
A Primavera é já ali.
Beijo
*jj*