O que é espantoso é o modo como a vida que foi a nossa irrompe dentro dos encontros mais superficiais, desta vez só nós os três em redor da mesa das sardinhas de um Domingo calmo. Tudo começa com uma paixão que pode nascer aos oitenta anos, num comboio para o Algarve. Tudo o que antes seria história só possível na adolescência surge agora como promessa contida nas vidas que os mais velhos viram despir-se de amor, mas não de esperança. Gostava tanto de a ver viver um amor. Temos pena que se tenham despedido sem cumprir o sonho, mas compreendemos que a troca dos telefones aos oitenta jamais pode ser como aos dezoito. E era um homem tão bonito ainda, diz ela.
E é pelo amor que a seguimos até às partes mais obscuras e dolorosas, à tropical solidão de uma mulher que perde o marido que ama e está grávida dele no momento em que ele faz a mala definitiva. Não mais voltará. Nunca saberemos que futuro seria se ele a tivesse desfeito.
E é pelo amor que a seguimos até às partes mais obscuras e dolorosas, à tropical solidão de uma mulher que perde o marido que ama e está grávida dele no momento em que ele faz a mala definitiva. Não mais voltará. Nunca saberemos que futuro seria se ele a tivesse desfeito.
Pensava que tinha esquecido um e outro e mais outro episódio, mas de repende deslizam todos até mim, primeiro de dia e depois de noite. Vem até mim o carro vermelho da amante de onde eu jurei saltar em andamento, tiveram que o enconstar na berma e deixar-me seguir pelo passeio. Havia já dentro da menina que eu era, uma fúria contida e grandes lágrimas presas.
~CC~
4 comentários:
Mana, tens o condão de mexer comigo.
Imagino que essas memórias ainda te assaltem. Também penso no que seria, não das nossas vidas, que são de certeza melhores, mas da vida dela.
Sim e ele o tal senhor bonito, elogiou-a. A senhora vê-se que tem muita vida. E apesar de sabermos que parte dela morreu, ali nesses momentos ao ver esse carro vermelho, sabemos que é uma mulher muito forte!
Bjs
Pelo que vou conhecendo, é toda uma família de mulheres fortes!
Abraço
João
As lágrimas soltas
não têm idade
correm todas para o mar
ou ficam presas
nas margens
da memória
escrita tensa, forte , de admirável evocação !
Voltei arás pra reler , um prazer !
Abraço
_______ JRMarto
Ps - não se esqueçam do almoço , não sei como estão de trabalho , eu sempre atarefado, mas com disposição para uma hora de almoço ....
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