Toda a minha vida sonhei com lugares que não conheci e vivi imersa nas saudades dos lugares que amei. Se fechar os olhos, consigo sentir na pele um tango e ouvir a voz de Borges, como se a música e o escritor tivessem crescido comigo e não a milhas de distância. A minha experiência passou apenas pelos pastéis de massa tenra que a minha mãe aprendeu a fazer maravilhosamente bem com uma vizinha argentina. E sim a Argentina é de todos eles o que mais me chama, mesmo se o puser ao lado do Brasil para onde em tempos fugiu metade da minha alma. E a neve mais romântica do mundo só pode ser a do Chile. O Espanhol da América Latina e o Português do Brasil já são línguas outras, são línguas redondas, cantadas, são ventos alados de mariposas. Metade daquele continente é paixão em estado puro. Por isso quanto morre um escritor da América Latina, o mundo empobrece em sonho e em luta, fica mais cru e mais real. Afinal, quem mais nos pode dar poemas como este?
Botella al mar
Pongo estes seis versos en mi botella al mar
con el secreto designio de que algún dia
llegue a una playa desierta
y un nino la encuentre y la destape
y en lugar de versos extraiga piedritas
y socorros y alertas y caracoles.
Mario Benedetti
~CC~
2 comentários:
Um poema muito belo, de facto. Uma grande perda, fica-nos a obra para imortalizar o poeta
No fim da adolescência, nasceu em mim o gosto pela literatura sul americana, em cujos ambientes e personagens encontro sempre algo de apaixonado e apaixonante, como de primitivo.
Boa semana. :)
Um abraço do Norte
:)))))))))
sabe porque sorrio assim? porque ao procurar poemas de benedetti para assinalar a triste data, no meu blog, parei neste e... optei por outro. mas que parei neste, parei :)
quanto ao resto, sinto o mesmo fascínio pela america do sul, desde adolescente. nunca lá fui, mas amaria conhecer, particularmente a argentina. e concordo consigo, paixão em estado puro, línguas como mariposas.
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