Vi o filme morangos silvestres de Bergman muito cedo, cedo demais para perceber a complexa teia de fantasmas que o habita. E miúda como era, lembro-me de pensar que nunca na vida tinha visto morangos silvestres e que tal planta devia afinal ser da mesma natureza que o sonho/pesadelo do filme. Era uma planta inventada, criada pelo realizador, uma variante dos morangos domésticos mas rebelde e indomável. Só depois descobri que os havia a sério.
O ano passado descobrimos que o canteiro da casa em que passavámos férias em S. Pedro do Sul estava cheio de morangos silvestres, selvagens. E em pleno Verão as bagas vermelhas pequeninas espreitavam pelo meio do emaranhado de folhas. Não tive coragem de os provar, consta que são azedos e por isso ninguém os apanha, ninguém os come. Trouxe um pé deles para minha casa, agradava-me a ideia de conviver com tal planta, mas como muitas outras que trazemos para casa apanhadas ao acaso pelo campo, elas definham e morrem neste ambiente quotidiano de apartamento. Não foi o caso deste morangueiro, depressa cresceu e se desenvolveu e teve de ser mudado mais que uma vez de vaso. Era um selvagem que gostava de luz e do mimo que eu lhe dava. Sinceramente não pensei que viesse a dar fruto. Mas hoje reparei que tinha uma pequena uma flor branca e amarela e depois vi melhor e havia mais, pelo menos quatro botões prontos a nascer.
Agrada-me esta ideia de trazer para casa o que é silvestre, o que é diferente, o que vem de lugares onde estive, e são coisas vivas, que ficam a fazer-me companhia sempre que esta casa se mostra demasiado vazia.
Acreditem, às vezes basta uma flor de morango.
~CC~
3 comentários:
Flor de morango... flor de moringa...
As memórias que nos habitam também enchem as casas e até são capazes de lhes dar luz nos dias sombrios.
Beijos silvestres
*jj*
mas que história tão bonita
Silvestres
em casa
porque sim
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