Os bairros deviam ser todos verdes e belos, rasgados para horizontes de mar e gaivotas. Os bairros deviam ser como os ninhos das cegonhas, equilibrados em aconchego sobre o céu. Mas não são. E não podemos evitar saber isso, ou não devemos.
Cruzei-me com este por acaso, mas não lhe fui indiferente. Às vezes parece-me tão sereno como uma pomba adormecida e lenta, outras vezes tão soalheiro como se fosse apenas talhado em vizinhança amistosa e outras ameaçador e negro como um buraco sem saída. Tem muitos rostos, mas apenas um chega à Comunicação Social, é invariavelmente pelo mal que brilha.
Desta vez, mesmo que apenas ocupe uma pequena notícia de rodapé ou pé de página, é por uma coisa boa que se falará (embora pouco, é certo, que o bem não faz notícia). Desde há ano e meio que cerca de 25 estudantes da ESE ocupam por lá os poucos tempos livres que lhes restam, entregando o que de melhor conseguem descobrir em si. Eles deixaram-se tocar quando os chamei e até hoje isso surpreende-me. Alguns ficam pouco tempo e não resistem às múltiplas pressões, mas outros ficam, mesmo muito jovens ainda e com uma experiência de vida completamente diferente desta. Eu também nunca morei num bairro social, também nos meus olhos doem algumas imagens.
Amanhã, por um momento, vão esquecer-se as divisões e conflitos que vivem na flor da pele , amanhã por um momento é festa. Afinal saiu o primeiro número do Jornal "Vozes do Bairro", nascido a tinta e papel, pelas mãos das crianças e jovens do bairro. Espero que este seja apenas o primeiro. Uma das nossas estudantes voluntárias contará do seu envolvimento. Há também jornalistas* que aceitam estar assim em acontecimentos modestos destes, julgo que se deixam tocar.
~CC~
3 comentários:
Que bom!
Eu também tive a sorte de ser voluntária na escola EB2,3 na Bela Vista, ainda durante o curso. Foi duro, mas aprendi tanto.
:) Madalena
Há olhares que valem a pena. Parabéns pelo teu olhar atento
beijinhos
Parabéns, por conseguires congregar vontades e sonhos
Que saiam muitos!
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