domingo, janeiro 20, 2008

No tempo das princesas sós (III)

Foi em Junho que Hipiricão desapareceu. Nesse ano já estava muito calor em Junho e as quatro princesas tinham colocado os seus vestidos mais frescos e comprado leques novos de cores doces. As aulas de pintura tinham trazido às suas vidas a paleta de tons necessários para expressar o modo como o sangue lhes corria quente. A maior parte do tempo as suas conversas eram sobre ter asas e voar para longe, para destinos exóticos onde o sol durava até à meia noite. Hipiricão andava mais calado e pintava devagar como se o pincel nos seus dedos estivesse separado da cabeça de que ele era dono.


Por isso as jovens mulheres não conseguiram acreditar no desparecimento de Hipiricão naquele dia de calor sufocante de Junho. Durante dias os seus risos ficaram mudos e as faces perderam o tom rosado, na verdade nunca nenhuma delas tinha dito a uma outra que ele era importante, antes pelo contrário. Nenhuma percebeu inteiramente a razão para que tanta consternação as tivesse tomado assim, para o sabor triste que os dias tinham adquirido, para o vazio que enchia cada noite. E não falavam, não conseguiam dizer uma palavra sobre o assunto.


Nunca em nenhum mês de Junho o azul se tinha mostrado assim gélido, ao mesmo tempo que nenhuma água, por mais fresca que estivesse, conseguia realmente matar a sede.


E em surdina, em todas as bocas, havia um nome que se dizia baixo, uma explicação absurda para a ausência do príncipe louro: fugiu com Artemísia.


Elas viravam o rosto ou fechavam os olhos sempre que esse murmúrio as tocava.
(cont)
~CC~

1 comentário:

isabel mendes ferreira disse...

murmúrio.grito.alto.

ao alto.



ouço. a respiração.



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