quinta-feira, novembro 08, 2007

Guarda-rios e estuários (III)


Eu fui uma criança Almar.
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Passava horas a ver as formigas desenharem os seus carreiros e alimentava-as com as migalhas do meu pão com marmelada.
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Eu tinha as minhas mãos sempre sujas das tintas com que as mulheres tingiam os tecidos e com os restos delas pintava os troncos das árvores. Sonhava com uma floresta de árvores pintadas.
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Eu acreditava que todas as coisas tinham uma alma e podiam falar comigo e achava que o seu silêncio era apenas porque deveria saber esperar os seus sinais. E falava-lhes, eu falava-lhes sempre.
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Eu sabia que as bonecas de pano só se podiam casar uma vez por mês porque a festa delas era de folhas e flores e eu não devia arrancá-las com frequência.
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Eu era uma criança cheia de coisas que viviam na minha imensa solidão.
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Eu fui uma criança Almar feita de muitos momentos felizes e algumas dores. Eu tenho em mim todos os cheiros e sabores da minha infância Almar.

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